segunda-feira, 9 de março de 2009

Memórias de Música - 8


“Pois Canté” surge em 1975 e é o segundo disco LP editado pelo GAC – Grupo de Acção Cultural.
Este disco transcende em muito a simples afirmação ideológica e panfletária que grassava na época.
Alguns elementos do GAC tinham formação etnomusicológica, outros do canto heróico brechtiano, outros ainda uma predisposição mais do que se poderia chamar cantiga.
A música tradicional, as recolhas na tradição de Lopes Graça e Giacometti já se fazem sentir neste disco. Ninguém queria cometer leviandades a encarar a fusão destes elementos todos, mas também ninguém queria deixar de intervir à sua maneira e com a sua realidade neste processo.
“Pois Canté” foi um disco revolucionário até no sistema de produção (do próprio grupo) e distribuição (que se fez em meios como colectividades, sindicatos e até de mão à mão)
O GAC já tinha como experiência centenas de cantos livres e a realização inúmeras sessões de recolhas por todo o país. Aliás “pois cante” ou só “cante” é uma expressão Beirã (Ílhavo?!?) que quer dizer “quem dera” ou “então não há-de ser”.
Neste trabalho do GAC encontramos os corais colectivos onde o mais importante era o grito de alerta ao Povo no tema como pois cante vocalizado por José Mário Branco e arranjo de sopros de Luís Pedro Faro. Cantiga sem maneiras com vocalizações de Toinas num fundo de gaita-de-foles. Cantiga do Trabalho e Coro dos Trabalhadores Emigrados da lavra de José Mário Branco. É ainda de referir o extraordinário Ir e Vir cantado por João Lóio.
“Pois Canté” abriu caminho para a integração da música tradicional num contexto mais socializado. É um dos discos mais importantes da música popular portuguesa. Inexplicavelmente nunca teve edição em CD e os discos de Vinil desapareceram do mercado e também nunca houve reedição.
“Casas sim! Barracas não! As casa são do Povo! Abaixo a exploração! Dificilmente estas frases atingiriam hoje em dia o alvo, mas não é menos verdade que nenhum outro grupo, antes e depois do GAC, teve a coragem e a frontalidade de as cantar.
O Cantar do GAC faz falta e infelizmente cada vez é mais actual o cantar de um grupo que acabou em 1978.

João Balseiro


1 comentário:

ja disse...

Pois é!!!
Abril foi assassinado em Novembro!!!


Um blogue de
M. Rocha Carneiro

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